Um dos casos de homicídio de maior repercussão no Estado será retomado na próxima segunda-feira (20), no município de Três Passos. O médico Leandro Boldrini, réu pela morte do próprio filho, o menino Bernardo, em 2014, sentará novamente no banco dos réus em novo júri, depois que o julgamento que o condenou, em 2019, foi anulado. O Ministério Público do Estado (MP-RS) se prepara para o novo rito, e afirma que deve pedir pena máxima pelo assassinato.
A promotora Lúcia Helena Callegari afirmou que deve pedir pena máxima para o réu - que deve se assemelhar à condenação obtida no júri de 2019, de 33 anos e oito meses de prisão em regime fechado. Lúcia Helena irá atuar ao lado do promotor Miguel Germano Podanosche, da comarca de Três Passos.
O MP também deve mudar de postura em relação ao júri de março de 2019. A condenção de Boldrini foi anulada, em 2021, depois que um recurso da defesa do réu foi acolhido pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS). No entendimento dos desembargadores, o Ministério Público violou o direito do médico de permanecer em silêncio no interrogatório. Isso porque, apesar de Boldrini permanecer calado na sessão, o promotor leu em voz alta as perguntas que faria para o médico, o que o teria prejudicado.
Para evitar uma possível nova anulação, os promotores não farão as perguntas se o réu decidir ficar em silêncio.
- Há até pouco tempo, era comum o promotor fazer as perguntas e o réu permanecer em silêncio. Isso ocorreu em diversos júris e eles não foram anulados. No entanto, esse entendimento mudou, inclusive após a lei de Abuso de Autoridade, e deixou-se de fazer os questionamentos. Se o réu optar novamente por não responder ao MP, vamos ficar em silêncio. Apesar de eu acreditar que essa não é uma escolha inteligente por parte da defesa. Quem é inocente quer contribuir de todas as formas para explicar que não teve envolvimento, e os jurados também veem assim - explica Lúcia Helena.
A promotora acredita, no entanto, que o réu que não responde ao MP também não deveria responder à defesa:
- Há uma decisão recente do Supremo dizendo que o interrogatório deve começar pelo juiz e ser complementado pelas partes, sendo que o réu tem o direito de ficar em silêncio. Então as perguntas de acusação e defesa são complementares ao magistrado. Entendo que não é possível os réus só responderem as perguntas da defesa.
Parte da conduta a ser adotada pelo MP no novo julgamento foi adiantada em coletiva de imprensa realizada na quarta-feira (15).
O julgamento
Leandro Boldrini será o único réu no novo júri, com início na próxima segunda-feira (20), em Três Passos. A previsão é de que o rito dure até quatro dias. Os outros três réus não serão julgados novamente - confira abaixo a situação de cada um deles.
Em 2019, Boldrini foi condenado a 33 anos e oito meses de prisão pela morte de Bernardo. Em dezembro de 2021, o Tribunal de Justiça anulou a condenação e determinou que uma nova sessão fosse realizada, mas manteve a prisão do réu. Ele segue recolhido em Charqueadas.
Na nova sessão, os trabalhos serão comandados pela juíza Sucilene Engler Audino. O primeiro ato será o sorteio dos sete jurados dentre os 50 convocados para compor o Conselho de Sentença. Em seguida, serão ouvidas 10 testemunhas (cinco de defesa e cinco de acusação) e, ao final, o réu será interrogado. Assim como em 2019, Boldrini deve negar envolvimento no crime.
Contraponto
A defesa de Boldrini é feita por Rodrigo Grecellé Vares e Ezequiel Vetoretti. Os advogados afirmam que "não há uma estratégia" para o caso.
- A defesa do réu é muito simples: mostrar a verdade. Leandro não mandou matar o filho - disse Vares.
A defesa afirma que encara o novo julgamento "com serenidade" e acredita que o réu "será inocentado de todas as acusações que pesam contra ele".
Relembre o caso
Em 14 de abril de 2014, aos 11 anos, Bernardo Uglione Boldrini foi encontrado morto, após 10 dias desaparecido. O corpo do menino estava em um matagal, dentro de um saco, enterrado na localidade de Linha São Francisco, em Frederico Westphalen.
Bernardo morava com o pai, a madrasta e uma meia-irmã, de um ano, no município de Três Passos. O pai chegou a afirmar que o garoto havia retornado com a madrasta de uma viagem a Frederico Westphalen, no dia 4 de abril, quando teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo.
O menino deveria voltar no final da tarde do dia 6, o que não ocorreu. Após os 10 dias de investigações, foram presos o pai, a madrasta e uma amiga dela. Em 10 de maio, foi preso o irmão de Edelvânia, Evandro.
Além do assassinato, Leandro e Graciele também foram acusados de cometer violência psicológica e humilhação contra o menino, em razão de vídeos e áudios mostrados no processo.
A situação dos demais réus
- Graciele Ugulini (madrasta) - condenada a 34 anos e sete meses de reclusão em regime inicial fechado, está presa no Presídio Feminino Madre Pelletier com previsão de progressão para o semiaberto em 2026.
- Edelvania Wirganovicz (amiga de Graciele) - condenada a 22 anos e 10 meses de reclusão em regime inicial fechado, cumpre pena no regime semiaberto no Instituto Penal Feminino de Porto Alegre.
- Evandro Wirganovicz (irmão de Edelvania) - condenado a nove anos e seis meses em regime semiaberto e atualmente em liberdade condicional.