O humorista e influenciador Dilson Alves da Silva Neto, o Nego Di, deixou a prisão após pouco mais de 130 dias nesta quarta-feira (26). Ele foi solto por volta das 20h, depois de o Superior Tribunal de Justiça (STJ) conceder habeas corpus.
- Deus é o maior, só isso que eu tenho pra dizer - afirmou Nego Di ao sair de penitenciária.
Nego
Di estava preso preventivamente desde o dia 14 de julho. Ele é réu por estelionato em suposto esquema de produtos que não teriam sido entregues por loja virtual.
Ao deixar a prisão, o influenciador entrou em um carro preto, pendurou uma camiseta na janela do veículo com os dizeres: "Deus é o maior".
Após ser detido pela Polícia Civil gaúcha em Santa Catarina, ele foi conduzido para a Penitenciária Estadual de Canoas 1 (Pecan 1), na Região Metropolitana.
A decisão pela soltura do influenciador é do ministro Reynaldo Soares da Fonseca, do STJ. No despacho, ele escreveu que "os fatos denunciados datam de 2022", que "a investigação foi concluída", que "a ação penal está em curso" e que "os supostos crimes não envolveram violência ou grave ameaça".
O magistrado também avaliou como pontos favoráveis o fato de Nego Di ser réu primário e ter residência fixa, acrescentando que "conquanto esses aspectos não sejam garantidores de um direito à soltura, devem ser considerados para fins de concessão da liberdade provisória."
O juiz ainda determinou cinco medidas para que a liberdade provisória fosse concedida. São elas:
- Comparecimento periódico em juízo para justificar suas atividades;
- Proibição de mudar de endereço sem autorização judicial;
- Proibição de se ausentar da comarca sem prévia comunicação ao juízo;
- Proibição de frequentar/usar redes sociais;
- Recolhimento do passaporte.
O influenciador havia tido quatro pedidos de soltura negados pela Justiça do RS. Com a decisão do STJ, ele poderá responder em liberdade pelas acusações.
O juiz também menciona em sua decisão que a defesa alegou que Nego Di "não teria participado do esquema com a finalidade de causar prejuízos, tanto que buscou ressarcir todas as 18 vítimas", acrescentando que o influenciador seria vítima do ex-sócio.
Assim que soube da decisão, a advogada de Nego Di, Tatiana Borsa, se deslocou até a Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) para cumprir o habeas corpus.
- Eu e a dra. Camila Kersch falamos com ele, que está feliz, tranquilo e confiante no nosso trabalho. Ele também já está ciente das medidas que precisará cumprir - diz a advogada.
Quatro meses e meio preso
A investigação, que teve início em 2022, aponta que o humorista teria vendido produtos de sua loja online, a Tá di Zuera, que nunca foram recebidos pelos compradores.
A Polícia Civil recebeu mais de 370 denúncias de consumidores que acreditam ter sido vítimas de golpe. Contudo, o delegado Marco Guns, titular da 1ª Delegacia de Polícia de Canoas, responsável pela investigação, aponta que o número de vítimas pode chegar a 1,8 mil.
- Pela análise dos afastamentos judiciais dos sigilos, a quantidade de pessoas que fizeram transferências bancárias, pagamento de PIX, como era no início, supera a casa do milhar. Então, nós estamos falando de mais de 1,5 mil, em torno de 1,8 mil pessoas que, de fato, fizeram transferências. É muito comum as pessoas que são vítimas de estelionato não registrarem ocorrência, por diversos fatores, seja vergonha, descrédito na Justiça, na polícia - explica o delegado.
Guns comenta que ainda nesta quarta-feira a DP recebe denúncias referentes caso, vindas de diferentes localidades do RS e do país. O delegado diz que além do descrédito, há pessoas que não compreendem a importância do registro da ocorrência policial por desinformação, uma vez que a investigação só pode ser procedida a partir da denúncia.
A investigação apontou que o mentor do esquema foi o sócio de Nego Di, Anderson Boneti. Contudo, segundo o delegado Guns, a polícia obteve provas que confirmam que o influenciador sabia das irregularidades praticadas na Tá Di Zuera. A apuração demonstrou que ele teria recebido R$ 300 mil em 50 dias de operação da loja.
- Fica confirmado que ele, ali, mais ou menos por abril (de 2022), já começa a ter condições de perceber que alguma coisa errada estava acontecendo. Essa que foi a construção do dolo. O criador da ideia foi o Anderson, ele (Nego Di) foi quem aceitou os resultados que estavam ocorrendo. Por isso o dolo eventual que nós fizemos o indiciamento dele - esclarece o delegado.
Com a quebra de sigilo bancário, a polícia constatou que o prejuízo das vítimas que relataram não ter recebido os produtos chegou a R$ 5 milhões.
O delegado explica que, como esse caso tem múltiplas vítimas de diferentes locais, o inquérito foi dividido por cidades. O primeiro que foi remetido à Justiça se refere a 18 vítimas de Canoas, que será analisado na Comarca da cidade. O inquérito referente às cerca de 70 vítimas de Porto Alegre também será remetido à Justiça de Canoas.
Segundo o delegado, o inquérito deve ser encaminhado à Justiça ainda em dezembro. À exceção dessas duas cidades, as vítimas dos demais municípios terão inquéritos conduzidos pelas delegacias das respectivas localidades.
Entre os dias 17 e 18 de outubro, vítimas e testemunhas do suposto esquema de estelionato foram ouvidas pela Justiça. Nego Di também prestou depoimento junto à 2ª Vara Criminal de Canoas no dia 18.
Segundo informações do Tribunal de Justiça do RS, após a última audiência houve um novo pedido de liberdade para o influenciador, que novamente foi negado. Não há outras audiências marcadas, pois, todas as partes já foram ouvidas.
Com a conclusão das investigações, as partes serão intimadas a apresentarem suas alegações finais por escrito, antes que a sentença seja proferida. Ao longo do processo, Nego Di teve três pedidos de liberdade negados.
Lavagem de dinheiro em rifas virtuais
Em setembro, Nego Di e a companheira Gabriela Souza foram denunciados pelo Ministério Público no caso que investiga a promoção de rifas virtuais pelas redes sociais. Nesta investigação ele foi acusado de estelionato, lavagem de dinheiro e uso de documento falso, além da contravenção penal de promoção de loteria na modalidade de rifas digitais.
Gabriela Souza é apontada pelo crime de lavagem de dinheiro. O casal foi alvo de operação pelo mesmo fato em 12 de julho. Na ocasião, Gabriela foi detida em flagrante por posse ilegal de armamento sem registro e de uso restrito às Forças Armadas. Ela foi liberada mediante pagamento de fiança no valor de R$ 14 mil.
De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), os dois movimentaram mais de R$ 2,5 milhões de forma ilícita.
A investigação apontou que o casal promovia rifas sem autorização entre novembro de 2022 e maio de 2024, em que prometia premiação em bens e dinheiro a partir de supostos sorteios. Um dos casos identificados foi o sorteio de uma Porsche Macan e R$ 150 mil em dinheiro.
Contudo, antes do sorteio, o casal teria transferido o veículo para terceiros, adquirindo o próprio número que seria sorteado e publicou um vídeo anunciando um vencedor fictício para a rifa, o que configurou o estelionato.
A lavagem de dinheiro foi identificada a partir de valores repassados para terceiros, além da compra de veículos de alto valor e imóveis em Porto Alegre, na Serra e no Litoral.
Nego Di ainda foi denunciado por uso de documento falso, pela suposta doação de R$ 1 milhão em campanha solidária para ajudar vítimas da enchente. Conforme o MP, ele doou apenas R$ 100 e divulgou um comprovante falso.
Gaúcho de Porto Alegre, Dilson Alves da Silva Neto, mais conhecido como Nego Di, participou do Big Brother Brasil em 2021. Ele entrou como integrante do grupo Camarote, pois já trabalhava como influenciador digital e comediante. Após 22 dias de confinamento, Nego Di foi o terceiro eliminado do programa, com 98,76% dos votos.
Após o reality, ele começou a promover rifas em redes sociais, divulgando no regulamento que "quem comprar mais números" ganha o prêmio. A prática é investigada pelo MP e motivou a operação contra ele e sua companheira em 12 de julho.
Nego Di já sofreu sanções da Justiça do Rio Grande do Sul por divulgação de fake news em seus perfis nas redes sociais. Em decisão de maio deste ano, o Tribunal de Justiça do RS (TJ) determinou que ele apagasse publicações sobre as enchentes.
Na ocasião, Nego Di alegou que as autoridades estariam impedindo barcos e motos aquáticas de propriedade privada de realizar salvamentos na região de Canoas, na Região Metropolitana, por falta de habilitação dos condutores. Além disso, ele também compartilhou imagens de cadáveres boiando que não eram da tragédia em questão, mas sim de uma de inundação no Rio de Janeiro.
A Justiça determinou a exclusão imediata das publicações e proibiu Nego Di de reiterar as afirmações mentirosas, sob pena de multa no valor de R$ 100 mil.