Encerrada após mais de 10 horas de cerco policial, a ocorrência que resultou em pelo menos quatro pessoas mortas e outras nove feridas teve início na noite de terça-feira, no bairro Ouro Branco, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. De acordo com a Brigada Militar, inicialmente, uma guarnição foi acionada para atender a um chamado sobre desentendimento familiar, na rua Adolfo Jaeger.
Atirador havia sido internado por esquizofrenia
De acordo com a Polícia Civil, o atirador e o pai sofriam de esquizofrenia. O suspeito somava quatro internações psiquiátricas e, apesar disso, ainda mantinha ativo o registro de CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador). Ele também havia completado diversos cursos de atirador, conforme a irmã dele informou aos policiais.
Foram apreendidas quatro armas de fogo no local da ocorrência, sendo duas carabinas e duas pistolas. Nenhuma das armas era irregular. De acordo com o secretário da Segurança Pública, Sandro Caron, as pistolas tinham sido legalizadas pela Polícia Federal e pelo Exército Brasileiro.
"Ele tinha armas legalmente. Duas eram registradas, sendo uma no sistema Sigma, do Exército, e outra no Sinarm, da Polícia Federal. Esse homem teve que apresentar um laudo atestando que teria condições de portar uma arma, mas ele já teve quatro internações por esquizofrenia. Com esquizofrenia não é uma questão de se, mas de quando a tragédia vai acontecer", disse Caron.
O chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, destacou que uma investigação foi instaurada para descobrir como um homem com esquizofrenia manteve armas em casa. Ele também disse que os desentendimentos entre o atirador e o pai eram constantes, mas que não havia nenhuma ocorrência policial dos casos.
Ainda conforme Sodré, a investigação ainda vai determinar se o homem premeditou o crime. Isso porque Crippa tinha vasta munição, tendo disparado mais de 100 tiros. Outras centenas de balas foram encontradas intactas dentro do imóvel, além de uma reserva de água no quarto dele.
"Ele tinha no quarto uma reserva de garrafas com água e energético. Também havia diversas caixas de munição armazenadas. Não descartamos que ele tenha premeditado o ataque", disse o chefe da PC.
Eugênio Crippa era motorista de cargas especiais, o que inclui o transporte de itens de valor e materiais de risco. A profissão garante condições para porte e posse de armas. O que ainda não se sabe é como ele conseguiu manter a autorização com diagnóstico de esquizofrenia e tendo sido internado por diversas vezes.
Crippa não tinha antecedentes criminais. Após uma rápida investigação, foi encontrado apenas um boletim de ocorrência por ameaça, mas que não gerou processo.
A rua Adolfo Jaeger amanheceu coberta por cápsulas de diversos calibres. Vizinha do atirador, Adriana Cristina Trein, de 52 anos, relatou que o confronto foi semelhante ao cenário de uma guerra.
"Foi uma noite terrível, parecia uma guerra. O tiroteio foi muito intenso. Cheguei a pensar que fosse alguma ocorrência envolvendo um confronte de facções, porque o bairro fica próximo do Instituto Penal de Novo Hamburgo, onde na terça-feira havia ocorrido outro ataque a tiros. Me surpreendi quando soube que o atirador era um vizinho e que ele havia disparado contra familiares e policiais", descreveu.
Morador do bairro Ouro Branco desde 1974, Fábio Mollon, de 50 anos, foi colega do pai do atirador quando jovem. Ele conta que, antes de se aposentar, o idoso trabalhava como motorista de ônibus. A vítima já havia relatado ao amigo que sofria maus-tratos.
"Ele me contava que as vezes o filho não o deixava sair de casa. Era uma relação bastante complicada. O homem subjulgava os pais."
Eugênio Crippa estava desempregado há cerca de um ano. Desde então, ele morava com os pais. Um vizinho que não quis se identificar descreve que o atirador tinha comportamento excêntrico, o que gerava estranheza entre moradores do bairro.
"Eu decidi que, por causa dele, não falaria mais com a família que morava ali. Era um homem que tinha olhar estranho e jeito agressivo. Certa vez, uma ventania derrubou telhas da minha casa em frente ao portão dele. Fui gentilmente me oferecer para limpar o material que havia caído lá, mas não tive resposta. Ele apenas ficou me olhando, de forma estática, sem falar nada", contou o vizinho.